“A verdade do que se conta está no modo como se é”...
A minha primeira sensação ao ler esse livro (eu vi o filme antes, eu prefiro) é que não se trata de uma história de amor. Primeiro de tudo eu percebi que se trata de uma maneira desesperada de seduzir o leitor para que se possa auxiliar o narrador a exorcizar as suas culpas.
No final das contas, a gente percebe: as culpas sempre estiveram, estão ou estarão lá, mas, de maneira alguma, serão imutáveis ou não irão variar, ao longo da narrativa (e de nossas vidas, pode-se dizer), o seu grau de complexidade.
É impressionante a maneira que Bernhard Schlink demonstra que os questionamentos de Michael Berg poderia ser de qualquer um, mesmo aqueles que não são juristas!
A questão que mais me chamou atenção no livro foi a maneira como o alemão não judeu é retratado: aquele que não participou da guerra, que não tem qualquer responsabilidade diante dos acontecimentos inquestionavelmente absurdos que aconteceram deve se sentir culpado pelos seus antecessores na história político-social do país?
Uma vez eu vi uma entrevista, na qual o entrevistado dizia que as gerações 80/90 lutavam, nos anos posteriores à ditadura militar, contra a direita, incansavelmente, sem qualquer razão. Não olhávamos para o futuro, ficávamos somente presos ao passado…
Ora, nós não fomos diretamente afetados! Não sofremos na pele o que nossos antecessores sofreram, tampouco fomos responsáveis pelo seu sofrimento! Lutamos a troco de quê? Qual é a razão de repetirmos padrões?
Voltando ao livro, o narrador mostra o conflito interno que vive: como pode amar alguém que foi responsável por tantas coisas abjetas? Após o seu encontro com Hanna, toda a sua vida foi levada a uma outra estrada daquela previamente traçada, todas as suas atitudes e pensamentos tomaram novo rumo e é interessante ver nele o espelho de nós: vivemos diuturnamente em conflito, com grandes desafios morais e éticos à nossa volta, aguardando uma atitude que possa alterar o foco da questão.
Além disso, vemos que, apesar de tudo, existe amor. É um amor realista, ciente de si e da realidade que o moldou, nada semelhante às ideias idiotas que alguns veículos de cultura transmitem: o sentimento é problemático, torto e, ainda assim, lhe é permitido permanecer, aguentar o que há de pior no seu contexto.
Me interessei também pelas pesquisas do narrador (seriam elas próprias de Bernhard Schlink?) no âmbito do direito, especialmente no tocante aos artigos do código penal, interessante notar o conceito de ordem mundial que deve ser sempre zelada, como se já estivéssemos em ordem antes do fato delituoso.
Recomendo a leitura.
Foi transformado em filme pelo diretor Stephen Daldry e teve como atores principais Kate Winslet (ganhou o Oscar pelo papel), Ralph Fiennes e David Kross.
O livro está à venda em todas as livrarias e o seu preço médio é de R$ 25.
Não li o livro nem assisti o filme – ainda. Só falta mesmo tomar vergonha na cara porque já comprei o DVD há meses.
So many books/films, so little time…
Pelo tempo do comentário você já leu o livro, né não? Achou o que?
[…] de Bernhard Schlink que seja, para mim, ainda melhor (com toda a carga que essa palavra traz) que “O Leitor”, este livro, com certeza, é “A Volta Para […]
“Primeiro quis escrever nossa história para livrar-me dela. Mas para esse objetivo as lembranças não vieram. Então notei como a nossa história estava escapando de mim e quis recolhê-la de novo por meio do trabalho de escrever, mas isso também não destravou as memórias. Há alguns anos deixo nossa história em paz. Fiz as pazes com ela. E ela retornou, detalhe após detalhe, de uma maneira redonda, fechada e direcionada que já não me deixa triste. Que história triste, pensei durante muito tempo. Não que eu pense agora que ela é feliz. Mas penso que é verdadeira e, diante disso, perguntar se é triste ou feliz é algo que não faz sentido.”
(lindo, lindo!!!)
“Mas penso que é verdadeira e, diante disso, perguntar se é triste ou feliz é algo que não faz sentido” JUSTAMENTE!
Schlink é o melhor, diga aí! Rs.
[…] como em “O leitor”, ele vai direto ao ponto em “O outro”. Trata-se da história de um viúvo e conta a maneira […]
Tel, amiga querida, também acho que devemos estar com a memória sempre presente e também alertas para o que está por vir mas, nem por isso, acredito que devamos nos fechar às oportunidades do progresso, tampouco ficar com o pé atrás pra tudo.
É como se apaixonar, se machucar muito e, depois disso, se fechar pros próximos acontecimentos, não se permitir errar mais uma vez.
Sei que são situações muito diferentes, mas é isso que caracteriza o animal humano: somos feitos de erros, acertos e conseqüencias.
🙂
Te amo muito!
Mari, menos romantismos! Mas vamos na sua lógica (blergh!)
Você acha que optar pela democracia e votar de quatro em quatro anos é o que?
Hahaha
É ficar atenta! 🙂
Mari,
Primeiro parabéns pelo blog. O nome é um tanto sexy – sensações – imagine você falando de um dos livro do Amado? hauhauhua
Bom, vamos ao “O Leitor”. Não li o livro mas vi o filme. Concordo que seja uma história de amor e adoro as realistas histórias de amor. Ela fez tudo aquilo e não tem noção do horror do que fez, mais um reflexo do que a falta de educação pode fazer com as pessoas. Acho que quando o Bernard faz a parte dele, até para desaliviar a culpa que ele sente, dando a oportunidade dela se tornar uma pessoa melhor mesmo depois de tudo. Todos temos direito a segunda chance.
Agora quanto à luta da nossa sociedade contra a direita brasileira, Mari, tenho que discordar!! Não é sem razão. A ditadura veio num momento que ou a “elite tomava uma posição radical contra o que os politicos estavam fazendo com o país” ou virariamos comunistas. A luta da esquerda é pelo futuro que estavamos construindo e não deixaram. É de transformar o país numa nação com cidadãos! É preciso relembrar o que aconteceu no passado, ver quantas e quantas pessoas sofreram, foram torturadas, presas, estupradas, viveram clandestinamente em nome da democracia e dessa construção. Devemos isso ao futuro da nossa nação e em memorias desses herois, sim! E isso não tem nada de repetições de padrão.